segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Frankenstein e Drácula

O fantástico na ordem social

O medo da civilização burguesa possui dois nomes: Frankenstein e Drácula. O monstro e o vampiro nasceram juntos em uma sala de estar na, que se tornaria famosa Vila Chapuis, perto de genebra durante um jogo de salão entre amigos em uma noite chuvosa de verão. É 1816 e está em curso a revolução industrial.

Surgem de novo juntos no final do séc. XIX, sob os nomes Hyde e Drácula. No séc. XX conquistam o cinema, primeiro depois da Primeira Guerra Mundial em meio ao expressionismo alemão. Depois da crise de 1929 com as grandes produções americanas e pouco mais tarde em 1956/57 com nomes como Peter Cushing, Christofer Lee e Terence Fisher.

Frankenstein e Drácula levam vidas paralelas, as duas faces horríveis de uma só sociedade: o miserável desfigurado e o proprietário impiedoso, o trabalhador e o capital. Nas palavras de Franco Moretti “A literatura de terror nasce exatamente do terror de uma sociedade dividida e do desejo de curá-la”. É por essa razão que Frankenstein e Drácula, com raras exceções, não aparecem juntos.

O monstro, assim, serve para deslocar os antagonismos e horrores evidentes de dentro para fora da própria sociedade. Serve para reconstruir a universalidade, a coesão social, que em si mesma, já não inspira confiança. O que o monstro nos faz perceber é a dificuldade de uma classe dominante em lidar de forma igualitária com todos os seres humanos.

Drácula, por outro lado, é um asceta do terror, nele celebra-se o desejo da posse sobre o prazer. Como no consumo, é insaciável. Por isso não se pode subsistir com o vampiro, ou mata-o ou subjuga-se a ele. O Drácula de Stoker é um empresário racional. É solitário, despótico e não tolerará concorrência que investe seu ouro para expandir seu domínio: Londres, ou seja, é o monopólio. No entanto o burguês do séc. XIX acredita no livre comércio, tanto que para isso, teve que destruir a tirania do monopólio feudal. O Drácula é ao mesmo tempo produto da sociedade burguesa e sua negação.

O fantástico, o medo ou o surreal na literatura são marcas sociais, interpretações do universo humano ao ser humano. Em O Vale, não há medo, mas há sim o fantástico nas des-relações. Reflexo de nossas irresponsabilidades coletivas 2.0

O senso de “estar perdido” presente neste vale de decisões diárias, precisa ser encarado e entendido como o primeiro passo para a remissão de nossa espiritualidade.





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