terça-feira, 31 de agosto de 2010

Bem Brasil Maria Rita - A Minha Alma

Inocentes

A terceirização da culpa.

O Brasil, terra de copas e olimpíadas vê-se como berço e testemunha ocular do nascimento do nardonismo. Verdade seja dita, isso não é coisa de agora é herança de ciclos e ciclos mal resolvidos de injustiças, não apenas as institucionais, mas aquelas que se referem às relações humanas.

É extremamente perturbador ao ser vivo ouvir monstruosidades exatamente antes da novela. Nossa reação é se remexer no safa proferir meia dúzia de impropérios, mas o sorriso da mocinha ou a torcida pelo final feliz dos casais eleitos pela afinidade lançam qualquer esboço de indignação para debaixo do tapete.

O que dizer do João Helio? Arrastado vivo pelas ruas suburbanas esquecidas e maltrapilhas. A comoção nacional, os protestos, os gritos de justiça se transformaram no abre alas carnavalesco, pois semanas apos aquele horror, o carnaval anestesiava-nos o entendimento. Mas ha também o Daniel Duque, as mães da baixada, Vigário Geral e os inumeráveis anônimos levados de nós, pela forca da bala ou do transito. O nardonismo é essa espécie de entorpecimento da alma onde tudo isso não parece se referir a nós e sim a uma terceira pessoa.

Mensalões e mensalinhos, arranjos politicamente formulados, maços de dinheiro com transito livre a margem da ética do “serviço” publico. Isso também não se refere a nós, se existe é culpa de uma terceira pessoa.

Se no oriente Aiatolás mandam teocentricamente construir a bomba aqui é caso de soberania nacional, ainda que se morra de fome pela causa da justiça caribenha, isso também não se refere a nós, uma terceira pessoa que cuide disso.

Nunca antes na história desse país a perversidade humana ocupou patamares como este. Não tem rosto, não tem voz, não pode ser identificado. Ainda que o perverso seja eu, tenha sido feito ou pensado por mim a vinheta da novela o encobrirá. O carnaval o fará esquecido, pois a final é apenas uma terceira pessoa.

A Velha Cantina

Quando a pizza não mais alimenta.

A velha Nona cozinha em seu local mais precioso. Prepara a massa aos olhares atenciosos de olivais. Trigo ovos e leite completam o ambiente. Em sua cozinha Nona é toda poderosa. Um aroma delicioso inunda o ar, o vinho já foi posto a mesa o pão é repartido junto ao queijo. Musica é o tempero que faz a massa, a pasta a vida.

Não é uma cantina como outra qualquer esta é decididamente especial. É colorida alegre, mas não se encontra no velho mundo não esta em redutos imigrantes e nem mesmo é italiana.

A especialidade? Pizza é claro! E não qualquer uma, a melhor. A mais cara que as mãos humanas podem fazer a mais deliciosa cujo tempero é o mais equilibrado entre sabor e textura. Não é muito fina nem muito grossa nunca queima. E o queijo... Ah o queijo está sempre derretido suculento e saboroso!

Esta cantina é tão especial e a pizza que servem de tão única e deliciosa que apenas alguns poucos mortais se dão ao luxo de apreciá-la. Todos nós sabemos onde se encontra seu endereço não é segredo a ninguém. Se você estiver no plano piloto olhe para o leste dos dois lados estarão prédios simetricamente construídos. Ordenados e progressivos perfeitamente enfileirados como caixinhas de fósforos prontas a caírem sobre as outras como nas brincadeiras com dominós. No centro adiante fica cantina. Um prédio alto como que querendo atingir os céus com duas cuias que é o que usam para servir as pizzas, não tem como errar!

De vez em quando aparecem aqueles dos quais dizemos: Estes tais suportarão! Jamais provarão quanto mais se fartarão da iguaria na Cantina servida sempre quente e sempre abundante. Erramos sempre! As mesas se sentam e dela se fartam. Ficamos nós arrependidos da crença depositada em tais mortais como se fossem deuses.

Na cozinha a Nona sempre cozinha, enquanto esfomeados se amontoam disputando Vossas Excelências as garfadas da iguaria.

Este ano João, sirva outra coisa. Este ano Maria emborque as cuias queime os pães jogue fora o vinho que bebes e te embriagas e que te turva os olhos e te faz teclar na urna os nomes dos glutões.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Maria Rita- Não Deixe o Samba Morrer(DVD)

A sogra

Papos de Bar

Sempre ha o que se falar de nossas sogras, principalmente no bar. Não importa que assunto seja se futebol se política se religião ou qualquer outro tema aleatório que nada acrescente a existência humana. Tudo acaba em sogras, sempre acabamos palavreando passionalmente das mães de nossas mulheres. Justiça seja feita! Nem todas elas nos atazanam a vida, algumas também atazanam outros pobres coitados que nada tem haver conosco. Outras simplesmente são boazinhas mesmo!Ainda que isso seja uma lenda. Sei que sogras assim existem, só nunca as vi. Sai outra rodada enquanto mais afortunados genros se juntam a nós

Ha que se entender uma coisa! É extremamente necessário a nós, é da natureza masculina a analise parcial e mal feita das vidas das tais senhoras. O contrario é simplesmente impensável. Seria como ouvir um vascaíno falando bem do Flamengo ou um flamenguista elogiando sinceramente o Eurico. Impossível!

Entre um gole e outro peço a atenção de meus irmãos de copos e tulipas e me auto proclamo o próprio desafortunado em pessoa. Por quê? Perguntam todos. Respondo em tom de martírio e pesar.

__Ela esta morando comigo! O assombro é geral. Afirmo isso em meio aos sons funestos que nós fazemos diante de uma verdadeira desgraça. Todos bebem a minha saúde. Deve haver no paraíso lugar de destaque para mim com as setenta virgens dos muçulmanos na mansão celestial com ruas de ouro dos crentes!

Que mal fizemos a elas? Demos a suas filhas vida de rainha, demos até netos para que elas pudessem presentear e mimar da melhor forma que nós quisermos.

Não tem jeito amigos! Sogras existem mesmo, o coitado do João tem três, eu tenho uma e ela mora comigo.

Bem que o Sarney podia me quebrar um galho e arrumar uma diretoria pra ela no senado. Já pensou? Eu aqui e ela lá em Brasília!

Só bebendo mesmo!

Não como a Dilma! Não como o Lula. Não como bobagens!

A política carioca, só carioca entende. Ou não!


Quase quarenta anos depois das diretas, já são 9 aqueles que ocuparam o Palácio das Laranjeiras. A história política do Estado do Rio de Janeiro é um emaranhado de ligações, coligações, rompimentos e reatamentos. Como não nos lembrarmos do entrevero público dos antes foram aliados Garotinho e Brizola? Da luta socialista anti-Moreira Franco, ou da disputa, por vezes sem pudor, entre antigos aliados, vide Rosinha X Benedita.

Nunca um governador eleito deste período correspondia ao presidente. Partidos opostos distanciavam Brasília do Rio. Nada muito diferente do que acontecia entre a capital e o interior fluminense. Redutos eleitorais defendidos a ferro e a fogo. É de se admirar que o mesmo carioca que ferveu pelas diretas tenha se curvado a quarenta anos de coronelismo eleitoral. Ou a baixada é exemplo democrático de coexistência pacífica? Certo que não! A polarização política que o Brasil experimenta hoje na disputa pela presidência é figurinha fácil por aqui, de Itatiaia a Varre-Sai.

Poderíamos postular que o que acontece na Av. Presidente Kennedy não afeta a Vieira Souto. Como se não houvesse milhares de fluminenses a integrar as fileiras do trabalho na capital. Muitos dos quais descendentes dos que antes foram desterrados do Centro carioca para os loteamentos da baixada. Erros passados que hoje nos cobram alto preço. A violência que antes de subir o morro ocupou as terras baixas do Sarapuí retorna hoje, made in UPP, pois a pacificação comemorada na zona sul ainda é sonho de pais e mães do interior.

Em quarenta anos nos acostumamos a ver nossos políticos a fazer. Um viaduto aqui, uma rua asfaltada ali. Como resultado surgiu um Rio de Janeiro de cartão postal, feito para turista ver. O interior padece em violência, onde nossos jovens desfalecem seja pela arma de fogo seja pelo bebum ao volante. Prefeitos tomam posse de seus cargos à mesma velocidade em que a Justiça eleitoral os destitui. A grande colcha de retalhos de nossa velha política luso-tupiniquim dos tempos do: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Não como a Dilma! Não como o Lula, porque minha santa mãe me ensinou a não comer bobagens. A não engolir quarenta anos de conformismo tecno-político pseudo-marqueteiro. A suposta aliança deste governo com Brasília derrapa no telhado de vidro intransparente do uso do dinheiro público, da saúde a educação. A resposta não está na volta ao emaranhado partidário. Fenômeno que é capaz de unir Gabeira ao César Maia. Tampouco na figura quase messiânica que alguns candidatos estão assumindo. A resposta não é imediata, não é partidária. A resposta está na política relacional, nas relações humanas e na boa representação de nossas ansiedades. Mas não se engane, este futuro começa hoje.