terça-feira, 6 de setembro de 2011

Entre a Glória e a Vergonha

Uma crônica sobre o sucesso e o fracasso

Enquanto eu trabalhava em meu romance uma pessoa se aproximou de minha janela e puxou conversa. Curioso, no espaço de um minuto, o sujeito me apedreja perguntas sem me dar o fôlego necessário para responder a uma sequer. Sua última pergunta é possivelmente aquela que mais persegue os escritores em inicio de carreira: Quando é que você vai publicar?
É esta a maior expectativa de todo aquele que escreve, ou seja, a materialização de seu trabalho e de todas as horas gastas, no sagrado papel em formato livro.

A matemática do sucesso é uma simples operação de adição cuja melhor medida está nos números. Uma característica deste tempo que atinge também o escritor que vê seu sucesso medido em tiragem. No competitivo mercado editorial brasileiro ter cinco mil obras vendidas em um trimestre significa um excelente começo. Vinte mil em um ano o levará a uma grande editora e a um provável best-seller e a gloria.  A publicação pura e simples representa muito pouco para a indústria do livro, uma vez que apenas menos de 1% de todos os títulos publicados no país venderão mais de cem mil obras e é ai que está o engano de muitos que sonham em viver da “literatura”: A indústria do livro e a literatura/arte são opostas entre si.

A tiragem não é um indicativo do valor literário, veja que o autor brasileiro que mais publica no mundo hoje, jamais obteve o reconhecimento da academia do valor literário para nem mesmo sequer uma de suas obras. Já os autores mais reconhecidos pela qualidade técnica e relevância de suas obras as escreveram em um espaço de duzentos anos e estes não são apenas autores, se tornaram sinônimos de literatura brasileira, mas hoje, suas tiragens são mínimas, o que mostra haver uma distância entre o sucesso matemático da tiragem e o valor real e a relevância cultural e literária de uma obra. Não obstante, as duas coisas podem sim conviver juntas, mas estes casos infelizmente vêm se tornando cada vez mais raros e restritos a uma comunidade seleta de autores.

Para muitos o fracasso está na vergonha do anonimato, ou seja, em jamais publicar algo, já o sucesso no número de livros ou de CD`s vendidos ou mesmo de posts visualizados e comentados. O número de seguidores em um perfil ou de amigos adicionados.
O sucesso não está na performance numérica e sim na qualidade individual, está no “teor” no extrato essencial do ser e isto não se reflete em números, não esta sob o domínio da industria não pode ser “baixado” em um click ou mesmo copiado e colado em outro documento para servir de modelo. O talento não pode ser copiado.

Nestes dias a nossa literatura passa por sua pior “entre safra”, mas ressurgirá como arte que é interpretando o mundo a imagem e semelhança tupiniquim sob a mesa antropofágica e oferecerá ao mundo a literariedade oral capaz de gerar reflexão cultural e identificação humana. E esta literatura não esta hoje nas grandes tiragens.

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