segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Felicidade

Um contra censo

Quando Platão escreveu A República deixou marcado no consciente grego que felicidade era uma combinação das escolhas feitas no mundo natural somado a influência das idéias. Algo além do físico guiado pelo ‘daimon’ o homem encontraria seu destino. De certo ficou que esse conceito marcaria a definição da própria palavra felicidade: ‘eudaimonia’. Ou seja, Eu + Bom + Gênio. Entende-se então que para os gregos felicidade é o resultado de se viver sob a influência de um bom gênio, o mundo das idéias.

A migração da vida rural para a sociedade de consumo industrial viria a inferir drasticamente no ideal grego de felicidade, pois nesta fase da história o ‘Bom’ foi entendido como consumo. É importante destacar que o ideal moderno de consumo não se pauta na qualidade do que se consome, mas na ação de consumir, seja o que for. Se há escolhas a serem feitas elas se referem ao produto e não à vida, como era para os gregos. De fato a influência do mundo das idéias também foi substituída. O ‘gênio’ ou guia extra físico passou a ser o sentimento ou os sentimentos envolvidos no ato do consumo ou aquilo que se sente em não poder consumir o que se deseja.

Essa trajetória humanista traduziu em felicidade algo em constante mutação, pois o próprio produto alvo do estado de felicidade se tornou abstrato. O ‘bem estar’ se tornou o alvo, o ápice da busca pela vida feliz. Com o fim da guerra fria e o desencadear da nova economia somou-se a isso a busca pelo censo de auto realização, um pseudo hedonismo uma hidra de intenções metafísicas, mas de corpo humanista secularizado. Neste ponto ser feliz significa encontrar o amor, mesmo que seja sexo. Significa a auto realização, mas sem esforço e com o maior ganho possível. Significa fazer apenas o que se gosta, mas sem as chatices do ‘mundo natural’. O guia desta vida deixou de ser algo além da própria existência para ser o ‘Eu’.

É importante dizer que a religião também deixou sua contribuição na formação da idéia atual de felicidade. O processo primeiro de estatização da religião e mais tarde de privatização somado ao relativismo cultural miscigenou e nivelou ‘por baixo’ a religião que hoje está aí. Toma-se por base a animização institucional cujo símbolo é o ‘Eu’. De novo encontramos o pseudo hedonismo, mas agora travestido de religioso. Ou seja, deus é servo do ‘bem estar’ e o consumo seu sacerdote.

Devo dizer que quem está certo é o Linkin Park: “I become so numb (...)”. Felicidade se tornou esse anestesiamento da alma. Um entorpecente pandêmico que já atingiu níveis além do alarmante. Devemos urgentemente reorganizar nossas almas, mas não poderemos fazer isso sozinhos, pois os gregos já nos indicavam o caminho correto. São as nossas escolhas guiadas por algo além da matéria que trará significado ao destino do homem.

                                                               Wiki

Nenhum comentário:

Postar um comentário