Quando educação se torna um business os processos seletivos se tornam instrumento de injustiça social.
As provas realizadas no último fim de semana em todo o território nacional tinham a difícil missão de resgatar a dignidade do INEP seriamente arranhada após o escândalo de venda de provas do ENEM ano passado. Fato agravado pelos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB em que o Rio de Janeiro figura nas últimas posições com o maior número de escolas públicas abaixo das expectativas do MEC. O colapso do ensino público no Brasil é um ciclo que se repete desde que a coorte carioca não sabia que modelo educacional adotar, se o português, obviamente em declínio, mas ainda comprometido com a coroa. Ou se o modelo inglês, cujos jovens recém formados eram empreendedores e deixavam a escola prontos a dominar os mares. Venceu a coroa.
A cada ciclo de crise no sistema educacional as medidas tomadas são sempre as mesmas ainda que travestidas de novidade. Uma instituição é extinta em detrimento de outra, ocorrem mudanças no sistema de avaliação, a moda atual é a conceitual sem reprovação, tudo regado a complicados cálculos matemáticos, que nem mesmo os alunos seriam capazes de fazer, transformados em índices. Um ponto percentual para cima em alguma tabela é comemorado qual gol em final de Copa. Enquanto isso nossos alunos aprendem cada vez menos. Professores sofrem ataques de nervos ou se engalfinham em uma luta corpo a corpo pela sobrevivência com seus alunos em plena sala de aula, quando não, as notícias de abuso quais as ocorridas no Rio.
Enquanto isso a Europa ‘pensa’ em ciência para todos, aqui a pretendida educação para todos não está funcionando. O acesso a escola, ainda não me referindo a escola pública de qualidade, e ao ensino superior recém experimentado pela assim chamada classe “C” faz surgir uma questão. A que tipo de escola e ensino se está tendo acesso? Que tipo de ensino superior os milhares de brasileiros “emergentes” estão absorvendo. O boom de instituições de ensino ocorrido nos últimos dez anos não se deu pela voracidade nacional pelo conhecimento, mas sim por um negócio. Educar se tornou um mercado promissor onde a escola ou a faculdade se transformou em uma empresa, o aluno, bem esse deixou de ser aluno para ser um consumidor.
Outro agravante é a falta de uma resposta convincente para a pergunta: O ensino médio ensina exatamente o que? O aluno recém formado está preparado para que? O conhecimento adquirido em doze anos de estudo o capacita para que? A resposta é estarrecedora: Nada. O aluno saído do ensino médio por volta de seus dezoito anos de idade é apenas mais um desempregado, salvo se optou pelo ensino técnico, mas neste caso, não estará preparado para passar em um vestibular sério. Em qualquer país com o mínimo de seriedade o nosso ensino médio seria considerado um escândalo, pois é a maior ferramenta de exclusão social que se tem notícia.
O ENEM é isso que está aí, uma caricatura do próprio governo que o promove. É o 'feijão tropeiro' empurrado goela abaixo de todos nós. Importa para estes que o aluno/consumidor seja um número em uma tabela. Enquanto o mundo inteiro se pergunta: Como educar no pós-indústria? Nós aqui sequer sabemos como lidar com nossos próprios professores.
É preciso urgentemente que nos voltemos para a educação que importa, aquela que pode formar uma pessoa. Uma esfera cognitiva além das comuns como família e comunidade. Enquanto este caminho não for trilhado o ENEM os vestibulares e mesmo o sistema de Cotas serão apenas instrumentos de injustiça social.
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