A terceirização da culpa.
O Brasil, terra de copas e olimpíadas vê-se como berço e testemunha ocular do nascimento do nardonismo. Verdade seja dita, isso não é coisa de agora é herança de ciclos e ciclos mal resolvidos de injustiças, não apenas as institucionais, mas aquelas que se referem às relações humanas.
É extremamente perturbador ao ser vivo ouvir monstruosidades exatamente antes da novela. Nossa reação é se remexer no safa proferir meia dúzia de impropérios, mas o sorriso da mocinha ou a torcida pelo final feliz dos casais eleitos pela afinidade lançam qualquer esboço de indignação para debaixo do tapete.
O que dizer do João Helio? Arrastado vivo pelas ruas suburbanas esquecidas e maltrapilhas. A comoção nacional, os protestos, os gritos de justiça se transformaram no abre alas carnavalesco, pois semanas apos aquele horror, o carnaval anestesiava-nos o entendimento. Mas ha também o Daniel Duque, as mães da baixada, Vigário Geral e os inumeráveis anônimos levados de nós, pela forca da bala ou do transito. O nardonismo é essa espécie de entorpecimento da alma onde tudo isso não parece se referir a nós e sim a uma terceira pessoa.
Mensalões e mensalinhos, arranjos politicamente formulados, maços de dinheiro com transito livre a margem da ética do “serviço” publico. Isso também não se refere a nós, se existe é culpa de uma terceira pessoa.
Se no oriente Aiatolás mandam teocentricamente construir a bomba aqui é caso de soberania nacional, ainda que se morra de fome pela causa da justiça caribenha, isso também não se refere a nós, uma terceira pessoa que cuide disso.
Nunca antes na história desse país a perversidade humana ocupou patamares como este. Não tem rosto, não tem voz, não pode ser identificado. Ainda que o perverso seja eu, tenha sido feito ou pensado por mim a vinheta da novela o encobrirá. O carnaval o fará esquecido, pois a final é apenas uma terceira pessoa.
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