A bundalização de todos nós.
As relações entre homens e mulheres sempre foi de amor e ódio. Relegadas por milênios a um papel secundário na vida social elas foram anjos, bruxas, santas ou endemoniadas, símbolos de fertilidade, beleza e prazer. Uma descarga emocional elevada ao cubo trouxe como conseqüência a passionalidade, não do amor, mas do sexo. Um paradoxo uma vez que se o amor pode ser simbolizado pelo inocente coração vermelho a mulher por sua vez, não pode ser representada por sua vagina. Seu RG é a bunda.
Na mini série exibida pela Globo, cujo título humildemente plageio, fica ao ‘meio do caminho’. Não representa a herança de Nelson Rodriguez em sua capacidade de enxergar além da superficialidade, mas o desejo elevado à salvação ou a perdição humana. Também não vai além, é incapaz de fazer uma leitura atual dos anseios femininos, como se tudo na vida de uma mulher girasse em torno, não de sua vagina, ou seja, daquilo que como mulher pode gerar, fazer nascer, criativamente criar. Mas em torno de sua bunda. De seus desejos meramente hedonistas, como se a busca pela ‘felicidade’ fosse o alvo de toda existência.
Nada disso é novo, pois a beleza vende. Vende perfumes, cerveja, vende carros, vende uma cidade. E se a beleza vende, sua face mais visível é a mulher. No caso da Globo a beleza vende novelas, mini séries, BBB’s entre outras inutilidades. Pesa contra nós não apenas esse estupro do papel da mulher na sociedade, mas seus desdobramentos. O Rio tomou para si a mesma alienação de sua identidade. O que hoje representa a cidade? O carioca, o Corcovado, a Lagoa, Copacabana? As bundas! O pior é que quando um desavisado pensa em uma mulher sem levar em consideração sua traseira, esta mulher só pode ser Nossa Senhora. Entre santas e devassas nem a mãe de deus salva a imagem da mulher carioca.
Chega de bundalizar. A mulher é mais que bunda da mesma forma que a cidade é mais do que a propaganda que atrai a turistada que divinamente gasta aqui dólares e euros entre idas ao Cristo e o sapateado da mulata. Bundalizar a mulher significa a bundalização de nós mesmos. Travestimos nossa identidade. Ocultamos quem somos debaixo do blush do rimel e do batom. Expomos nossas vergonhas ao fio dental sob o sol de Ipanema. A mulher vale por que existe e existem milhares cuja história de superação e valentia merece ser contada em cadeia nacional. Ou nossa identidade ressurge das cinzas ou viveremos do falso, seja pela copa ou pela bunda olímpica.
Wow Léo!!! Muito bom! É tão legal ver um homem escrevendo isso! =) Risos!!!
ResponderExcluirSó escrevo isso pq "eu leio a aline" kkkk
ResponderExcluirPois é cara...Só os bundões mesmo pra enxergar a coisa dessa forma...
ResponderExcluirMuito bom!