Todo Carioca Bebe. Todo Bebum é Vidente.
Todo carioca bebe, nem que seja água. Gelada com gás mais limão, sem gás sem limão e com gelo, ou da bica mesmo. Uoston sempre bebeu, no bar da esquina, na birosca do fim da rua, na padaria do português o sujeito bebe não importa a hora, o dia ou a cor do cabelo. Seu boteco de preferência é tão antigo quanto Quintino, fica lá na esquina da Clarimundo com qualquer coisa. Diz a dona, uma paraibana morena de braços roliços e fala imponente que o Galinho quando menino ia lá de vez em quando beberiscar um guaraná. Dona Sebastiana tem até uma foto, amarelada pelo tempo, emoldurada atrás do balcão. Jura pra todo o mundo que o moleque franzino que aparece lá é o Galinho. Quem se atreve a desdizer?
Nunca vi Uoston sóbrio, há quem diga que testemunhou tal fato. Eu não! Vejo sempre aquela figura esguia de corpo marcado pela lida, da roça nos anos passados, hoje dos bicos feitos aqui e ali. Uoston é um faz tudo. Nunca estudou nada, mas ninguém sai de sua augusta presença sem as respostas almejadas. Se precisas de um eletricista, Uoston faz! Se pedreiro, marceneiro ele sabe. Dizem a boca miúda, que seu melhor ofício é o de oráculo.
Sentado a mesa do bar de Dona Sebastiana, já regado pela cevada em um dado momento, na hora certa em que os astros convergem seu poder ou agraciado pela divina providência, as palavras certas lhe saem da boca. Um vaticínio, profecia certa e infalível. Neste momento todas as mesas se calam, a música perde o gosto, a morena rebolativa desaparece. Só se houve a voz do profeta. Ninguém sabe ao certo como acontece, sabe-se apenas que Uoston, bebum, vaticina. Dado dia o português, sujeito ganancioso, embebedou de propósito o pobre apenas pra saber o resultado antecipado do bicho. Deu em nada! Milagre é assim, não se dá por vontade ou ganância humana.
Todo bebum é profeta, acho eu. Uoston não é o único, não pode ser. Lembro da polvorosa em um domingo quando previu o resultado do jogo do Maracanã. Do dia que previu a morte do astro pop, da alta do dólar ou da queda da bolsa. Tudo prevê Uoston. Nem mesmo Dona Sebastiana ousa contrariar-lhe a palavra.
Todo o bairro o respeita, toda cevada o alimenta a Uoston só lhe pesa a vida. Triste vida de bebum quando só lhe é preciosa a vida sob a sombra da marquise de um bar qualquer. De minha varanda em tarde ensolarada pela última vez vi passar pela rua o Oráculo de Quintino. Dizem uns e comentam outros que caminhou lento ao seu assento preferido. Bebeu por horas enquanto torcia diante da TV pelo time escolhido, foi então que aconteceu. O céu enegreceu e trovejou, lâmpadas piscavam o vento soprava. Uoston com rosto sereno, mãos postas sobre a mesa, olhar fixo proclamou:
_Campeão será o Prudente, na segunda divisão o Mengão. Por fim disse ele, Dilma presidente.
Nunca mais se vendeu cevada na birosca, Dona Sebastiana fechou o bar, o português foi embora. O futebol perdeu o gosto, tristeza em polvorosa.
Nunca mais vi Uoston, tenho medo da cevada.
Sempre que vejo um bebum passo de largo, vai que profetisa o danado.
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